Sobre o brincar, as brincadeiras e sua importância para a infância

 

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Foto: André Moura

 

É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança e o adulto fruem sua liberdade de criação” (Winnicott)

 

 

Caixa de sapato, avião, amarelinha, pega-pega, corda, pião. Todos lembramos de nossas brincadeiras infantis. Elas fizeram parte de nossa formação social, intelectual e afetiva.  Através de nossas brincadeiras nos socializamos, nos definimos e introjetamos muitos dos hábitos culturais da vida adulta. Todos brincamos na infância e carregamos, ainda vivas dentro de nós, muitas de nossas brincadeiras infantis.

Com o passar do tempo o brincar cedeu lugar a outras atividades que nos afastaram do exercício da criatividade e da liberdade de expressão. No mundo em que vivemos as relações afetivas são permeadas pela lógica consumista e o brincar, como atividade predominantemente lúdica e espontânea, saiu de cena. Piratas e bailarinas, vivenciados dentro da imaginação de cada um de nós, se transformaram em super- heróis e princesas hollywodianas.

No último fim de semana de maio comemora-se o brincar. A data é um convite ao exercício da espontaneidade e da imaginação. Um convite ao resgate da criança que existe em cada um de nós por fomentar o brincar como atividade livre entre adultos e crianças.

Desde o nascimento as crianças brincam, sendo o seu próprio corpo o objeto primeiro de investimento nas suas brincadeiras. Através de atividades lúdicas as crianças iniciam sua integração social, aprendendo não só a conviver com os outros, mas também a situar-se no mundo que as cercam. As crianças se expressam e se realizam através de suas brincadeiras. Ao brincar elas desenvolvem seu lado emocional e afetivo bem como muitas aptidões cognitivas. Suas brincadeiras são como nossas palavras. Elas revelam e escondem muito da singularidade daqueles que brincam. Mais do que um passatempo o brincar é uma forma de comunicação das crianças com seus pares e com adultos.

Através do faz-de-conta as crianças também elaboram situações vividas que lhes foram excessivas. Usando sua criatividade as crianças podem mudar o final de uma história que não foi fácil suportar, além de, sem culpa, descarregar nos objetos de suas brincadeiras sentimentos de angústia e agressividade que lhe provocaram objetos reais.

O brincar é o espaço não só da criação como da elaboração de conflitos. É o espaço propício às fantasias, onde fadas podem fazer visitas, caixas de sapatos se transformam em castelos e sapos viram príncipes.

Lembrando Walter Benjamin quem confere significado ao brinquedo é o ato de brincar. Fato que se encontra distante da realidade atual onde os brinquedos parecem já sair prontos das fábricas, basta se apertar um botão e pronto! A brincadeira começou. A contradição atual está no fato de que o brinquedo produzido pela imaginação infantil é fruto de um processo criativo; é produzido de dentro para fora o que coloca a criança no papel de autora. Já os brinquedos industrializados vêm de fora para dentro preenchendo um desejo. Ele impõe padrões e dita às regras do jogo.

Sabemos que nos dias de hoje fica difícil fugir dos padrões fabricados pela sociedade de consumo, porém fica clara a urgência de reconhecermos que tanto crianças quanto adultos precisam romper com as brincadeiras dominantes para que possam se vestir com as fantasias que desejarem num movimento de libertação e transformação dos padrões consumistas vigentes.

No último final de semana de Maio faço-nos esse convite a experimentar o brincar livre e espontâneo e a conhecer o belo trabalho da querida amiga Renata Meirelles em parceria com o Instituto Alana http://www.territoriodobrincar.com.br 

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