Quanto sinto que nada sei…

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Foto: André Moura

Reflexões sobre o documentário Quando sinto que já sei.

 

“Hey Teachers leave the kids alone” já bem dizia Pink Floyd na letra de Another Brick in the wall faz tempo … O fato é que esse tema está quente nos dias de hoje já que vivemos num momento onde as crianças e jovens na era da tecnologia, informação e consumo parecem prescindir da escola e que alguns pais contemporâneos tem optado, inclusive, por um processo alternativo de desescolarização. Mas, qual será então a real função da escola? E qual papel do professor? Ensinar conteúdos ou simplesmente mediar a aprendizagem? Essas perguntas difíceis e urgentes merecem nossa reflexão.
Essa semana fui assistir ao novo documentário Quando sinto que já sei de Antonio Lovato e Raul Perez, produzido por crowdfunding -no qual contribui pelo engajamento com o tema, que relata sete experiências distintas e alternativas em Educação no Brasil trazendo temas como salas de aula sem paredes, escolas sem divisão de faixas etárias e alunos decidindo o que vão aprender de forma democrática. Muito mais do que suscitar o debate sobre educação no Brasil hoje e qual papel da escola na formação de nossas crianças e jovens contemporâneos, o filme nos faz pensar sobre a vida e principalmente sobre a relação que nós adultos estabelecemos com o mundo, a aprendizagem e a infância nos dias de hoje.
Faz algum tempo que trabalho com a sensibilização educadores sobre o tema da criança e do consumo e sempre inicio minha fala com a definição de palavras como: Escola (schola do latim) que signifca lazer. Educar (educare do latim) que significa conduzir para fora. Brincar (vinculum do latim) que significa laço ou união e Infância (infale do latim) que significa aquele que não tem voz e quando os educadores se deparam com a definição desses termos tão corriqueiros no dia a dia da educação param para pensar e se emocionam. Emocionam-se porque se dão conta de que, muitas vezes, nas escolas de hoje as crianças tem sim voz, mas não tem escuta. Brincam, mas não formam vínculos e laços. São educadas ou robotizadas, mas não conduzidas para fora e a escolas quase nunca são espaços de lazer e alegria, mas de lições e tarefas a serem cumpridas. Constatar isso já é, sem dúvida, o início da transformação, mas o que será que precisamos para ir além? Para buscar de fato a transformação pela educação?
Acredito que primeiro de tudo devemos entender que educar é um ato político o que nos leva ao entendimento de que a educação não deveria ser para cidadania e sim na cidadania, ou seja, a educação/ aprendizagem deveria acontecer na relação, no vínculo do professor com aluno (e dos pais com seus filhos), que o conduzirá num processo de autoconhecimento baseado em respeito, acolhimento e liberdade para que esse ser consiga no seu tempo, na integração com a cidade e comunidade tanto aprender quanto ensinar. Educar deveria ser, segundo minha querida orientadora de mestrado Monique Augras e de quem comungo ideias, fomentar no aluno o surgimento da consciência crítica, fornecendo-lhes ferramentas para que possa avaliar, ele próprio, os caminhos que se abrem para construir algo na vida que valha a pena. Difícil, não? Não somente para educadores como para pais contemporâneos que experimentam um momento de desencantamento onde parece que poucas coisas na vida tem valido a pena.
Educar é, sem dúvida, fazer escolhas e isso é inclusive colocado num dos depoimentos do filme, mas eu iria além já que, aos meus olhos, a árdua tarefa de educar não deveria envolver qual caminho seguir, mas sim desenhar novos caminhos junto, em comunhão. E é ai que está a chave da questão. Não dá para educar sem se relacionar, sem se afetar- seja com o aluno, o filho ou o objeto de estudo. Para educar e aprender é preciso coragem (do latim agir com coração) e é isso que tem nos faltado nesses tempos duros, pouco humanos e materialistas.
Não existe aprendizagem sem relação e não existe relação sem afeto. O papel do educador e da escola- como segundo espaço de socialização e exercício da cidadania depois da família- deveria ser então o de reencantamento do mundo porque só assim será possível formarmos cidadãos mais críticos. A saída é a educação pela estética, pelo sentir em comum. A educação que respeita o aluno como um ser que sente, que se afeta, tem vontades, tem um tempo e uma expressão única e que na relação com o professor nos mostra a cada pergunta, a cada conflito, a cada encantamento o quanto nada sabemos…

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