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É Carnaval…

clarice 1 mes 259

Foto: André Moura

Nesse carnaval crie sua fantasia com seus filhos e caia na folia!

O carnaval está chegando com suas cores, confete e serpentina e ainda estamos em tempo de mudar esse cenário! Serão quatro dias de festa, alegria e sem dúvida muita fantasia.

Dizem que nosso Brasil é o país do Carnaval. Cada lugar comemora essa festa- que é de todos nós- do seu jeito. No Rio de Janeiro se escuta samba e a rua fica repleta de blocos que tocam as famosas marchinhas de carnaval. Na Bahia tem os trios elétricos e no Recife o frevo.  Apesar dos ritmos serem diferentes a folia é a mesma. E o que não falta em nenhuma festa de Carnaval é alegria e as famosas fantasias. São adultos, jovens e crianças que saem para as ruas, blocos e bailes para pular Carnaval, usar sua criatividade e se divertir.

Na minha cidade de coração e hoje de morada, que é o Rio de Janeiro, essa é uma época muito animada. Todos saem às ruas para pular Carnaval com fantasias bem divertidas e criativas. São adultos, jovens e crianças que caem na folia das ruas, praças e dos bailes ao som de marchinhas que embalam as brincadeiras das crianças com suas letras belas e lúdicas. No famoso bloco da Pracinha que é exclusivo para crianças, a garotada desfila, junto com seus pais, com muitas fantasias inventadas e não só vestidos com fantasias de personagens licenciados ou de super heróis e princesas. Alguns escolhem as fantasias clássicas de piratas e bailarinas e outros criam máscaras com cola colorida e purpurina na própria praça numa oficina para confecção de máscaras.

Nesse Carnaval que tal você também aproveitar para inventar moda e criar acessórios exclusivos? Podemos usar nossa imaginação para inventar fantasias com nossos pequenos assim como reaproveitar peças antigas para que ganhem novos significados. Uma ideia bacana pode ser então inventar acessórios com roupas usadas e que já estão apertadas nas crianças. Quem sabe meias antigas não se transformam em luvas ou uma saia numa bela coroa? Abra seu armário e solte sua imaginação! E não se esqueça de aproveitar essa folia com moderação e criatividade além de apresentar a crianças um pouco da cultura de nosso país através dos diferentes ritmos que são ouvidos ao longo desses quatro dias. Pule, dance, jogue confete, serpentina e divirta-se! Carnaval é época de folia, fantasia e alegria.

E para os cariocas fica a dica:

No sábado, dia 22, das 10h às 13h, terá o animado BLOCO DA PRACINHA, concentra, mas não sai, na Praça Pio XI, no Jardim Botânico

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De volta às aulas e a rotina. Dicas sustentáveis para pais e mães conscientes…

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As deliciosas férias estão, infelizmente, chegando ao fim. Tomara que nesse período o sol e o calor do verão tenham oferecido a nossas crianças a possibilidade de fugir de shoppings lotados para brincar mais e comprar menos. Espero também que os pais tenham pensado em bastantes programas ao ar livre para afastar as crianças das telinhas e aproximá-las da sua natureza exercitando sua imaginação e criatividade.

E agora é hora de recomeçar… Difícil mesmo será fazer com que os pequenos consigam entrar novamente na rotina, dormindo mais cedo para ter energia para encarar o dia a dia escolar. Uma boa dica é começar a volta à rotina uma semana antes para que as crianças comecem a se acostumar novamente com os horários e atividades sem esquecermos, claro, de conversar com eles sobre a volta às aulas como, por exemplo, quem será sua professora esse ano e sobre os amigos que vão reencontrar.

A volta às aulas pode, sem dúvida, ser um momento muito prazeroso e esperado pelas crianças que estão ansiosas para rever os amigos, saber quem são os novos colegas e aprender muitas novidades. Já para os pais esse retorno às aulas pode significar gastos acima do esperado em razão das monstruosas listas de material pedidas pelas escolas com apelo ao consumo desenfreado. Sem falar do bombardeio de publicidade de material escolar como mochilas, estojos, cadernos e outros produtos que entra em cena nos dando a ideia de que, para começar bem o ano, é preciso estar com tudo novo.

Além disso, as campanhas mercadológicas muitas vezes induzem a compra dos produtos da moda, frequentemente acompanhados de personagens licenciados. E os produtos com personagens licenciados são os mais visados e caros. Desenhos animados e ícones juvenis estão nas capas dos cadernos e nas estampas das mochilas, provocando, na maioria das vezes, gastos acima do esperado para os pais, já que quase sempre esses produtos chegam a custar 100% a mais que aqueles sem personagens.

Sem contar que são poucas as escolas, hoje, que tem uma política voltada para sustentabilidade e que incentivam a reutilização do material escolar e dos uniformes ou que orientem os pais com relação a essa questão. Usar a mochila ou o estojo do ano passado que estão em bom estado não deveria ser vergonhoso e sim um exemplo de sustentabilidade a ser seguido. A comunidade escolar deveria incentivar a reutilização de materiais e uniformes pelas famílias como uma forma de inclusão incusive. Ou seja, usar o livro do amigo da série anterior ou o uniforme do colega mais velho que cresceu poderia entrar na moda e, assim, além de repensar o consumo, estaríamos ensinando nossas crianças a cuidar de suas coisas para que pudessem ser reutilizadas.

Pensando nessas questões não temos, portanto, como não achar que esse momento de retorno para escola pode ser também uma boa época de repensarmos os valores consumistas que têm sido transmitidos aos nossos filhos. Eis a questão: será que precisamos comprar tudo novo? Mochila, estojo, lápis e lancheira para que nossos pequenos sejam aceitos na turma da escola? Claro que não! Podemos só repor algumas coisas que faltam e reaproveitar e reciclar outras.  Que tal tirar um dia para arrumar o material com as crianças? Limpar a mochila e até customizá-la dando uma marca original, apontar os lápis, arrumar o estojo e reaproveitar um caderno antigo, mas com folhas boas fazendo uma nova capa com recorte de fotos, desenhos e afins podem ser boas ideias. Você vai ver que muitos materiais ainda devem estar bons para usar e que essa experiência, além de rica, pode ser divertida.

Outra dica é mostrar aos pequenos que podemos voltar às aulas com novidades diferentes e não só com materiais novos. Voltar às aulas pode significar muitas histórias para contar… Então que tal produzir com seu filho um diário de férias cheio de fotos e registros de momentos divertidos para que ele possa compartilhar essas novidades com os amigos? Assim, as crianças vão começando a entender que não precisamos somente de objetos para sermos aceitos e nos socializarmos.

E não se esqueça: as férias estão acabando, mas as brincadeiras devem continuar sempre. Porque brincar é coisa séria. É importantíssimo ao longo de todo ano oferecermos tempo e espaço na rotina das crianças para possam brincar livremente. Brincando elas aprendem, exercitam comportamentos adultos, sua capacidade criativa e se socializam.

Na página do Alana deixo meu depoimento sobre mesmo tema para que possam compartilhar… https://www.facebook.com/projetocriancaeconsumo?fref=ts

E deixo também  a dica de leitura da matéria interessante no IG sobre o tema que inclui quais materiais são proibidos nas listas dos materiais

http://delas.ig.com.br/filhos/2014-01-20/saiba-quais-itens-estao-proibidos-na-lista-de-material-das-escolas.html

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E 1000 dias se passaram… Viva Clarice!

Foto: André Moura

Foto: André Moura

Uma criança nasceu e o mundo tornou a começar”. Essa frase, de nosso querido poeta Guimarães Rosa, nos faz pensar sobre a importância do desenvolvimento infantil saudável nesses nossos tempos injustos e insustentáveis. Podemos dizer então que uma sociedade mais sustentável e humana, extremamente vislumbrada nos dias atuais, é aquela que prioriza e honra suas crianças – principalmente nos mil primeiros dias de vida – tão importantes e muitas vezes negligenciados em nosso país- que vão desde a gestação até o segundo ano de vida do bebê. É fato que o cuidado com as mulheres grávidas e seus bebês tem relação direta com o bem estar da sociedade e da nação e não apenas sob o ponto de vista econômico, mas principalmente social. A garantia dos direitos relacionados à infância- que começam desde a gestação, condições de parto, amamentação até o desenvolvimento infantil integral na primeira infância são determinantes na vida do ser humano e do planeta. Pois, aquele que é bem cuidado saberá cuidar de si, dos outros e de seu entorno.

Não tenho, portanto, como começar a escrever sobre a importância do cuidado com a primeira infância sem fazê-lo num tom pessoal já que hoje 16.01.2014 marca os meus 1000 dias… da gestação até o dia de hoje, aniversário de 2 anos de minha pequena Clarice. Desde o resultado positivo do exame de sangue, que anunciou a chegada de minha filha,  confesso que muita coisa se passou e mudou em minha vida. A barriga foi crescendo junto com as preocupações, responsabilidades, contas e com o amor. E, sem duvida, depois desses 2 anos de convívio e cuidado diário com ela eu posso dizer que todo esforço e cada noite insone valeu a pena. Mas, não posso, também, deixar aqui de mencionar e agradecer a cada um, principalmente meu marido e companheiro, que esteve comigo me ajudando e apoiando nesses 1000 dias. Talvez só nós mães, mulheres e profissionais sabemos como é solitária, árdua e difícil a tarefa de conciliar a maternidade com todo o resto de nossas vidas na contemporaneidade. Casamento. Trabalho. Família. Nada pára enquanto nossa cabeça e nosso corpo estão exclusivamente voltados para um único foco que é o cuidado de nosso bem mais precioso: o bebê – que queremos somente ver crescer e se desenvolver de forma plena. E que nesses 1000 dias depende quase que exclusivamente de nós, mães. De nosso cuidado, atenção, paciência, nutrição, olhar e escuta atenta. A presença da mãe é, sem dúvida, peça fundamental para o desenvolvimento psíquico, cognitivo e emocional saudável do bebê nesses 2 primeiros anos essenciais de sua vida. E por que então o Estado não garante esse direito a nós mulheres? De exercermos nossa função materna com mais tranquilidade durante esse período de 1000 dias como já fizeram países socialmente mais desenvolvidos?

Eu, dentre poucas mulheres atualmente, tive a chance e o privilégio de poder acompanhar e estar bem perto de minha filha nesses 1000 primeiros dias, pois tenho um emprego com horários flexíveis que me permitiram cuidar dela exclusivamente- sem ter que colocá-la ainda bebê numa creche ou terceirizar seu cuidado a uma babá ou ainda largar minha carreira sólida que amo e construí com anos de esforço e luta comprometida. Mas, não é isso que vive a maioria das mulheres na contemporaneidade, onde tempo é dinheiro- principalmente aquelas de classes menos favorecidas e que na maioria das vezes garantem o sustento da família com seu trabalho tendo que terceirizar o cuidado de seu rebento a outros ou a creches nesses 1000 dias e sublimar a culpa, a tristeza e o desapego além de terem que desmamar o filho precocemente.  Sem dúvida, essa dura realidade, da maioria das mulheres de nosso país, tem reflexos não só no desenvolvimento de seus filhos, mas também da nação e do planeta como já mencionado acima.

Nesses primeiros rápidos e intensos 2 anos a criança de fato  se desenvolve muito. Vale destacar aqui que se desenvolver significa sair do envolvimento e caminhar para uma maior autonomia. São nos dois primeiros anos de vida que a criança consegue ir se tornando, paulatinamente, mais independente da mãe e mais imune as “mazelas” desse mundão. Primeiro sentando, desmamando, depois engatinhando e se distanciando dela um pouco mais ao andar e oralizar seus desejos. Sem contar na dentição que, até os dois anos, deve se completar também fechando mais um ciclo de conquistas. Por isso a importância da presença mais efetiva da mãe nesses 1000 dias de cuidado com o bebê que precisa muito de contato e cuidado diário para crescer de forma saudável. Vale ressaltar também que é sabido que o impacto positivo ou negativo sofrido nos primeiros dois anos de vida de uma pessoa influenciarão muito como será essa pessoa ao decorrer de toda a sua vida, podendo em alguns casos, ser irreversível o impacto negativo, seja pela falta de alimentação adequada, pela falta de cuidado e amor ou até mesmo pela falta de estímulos.

Sendo assim, como já dito, um país que não cuida ou prioriza suas crianças não engrandece seu futuro porque a criança é o prefácio de uma sociedade mais justa e sustentável tendo no cuidado com seu presente a possibilidade de transformar o futuro. Todas nós mulheres deveríamos ter então nosso direito de ser mãe previsto, garantido e implementado nas políticas públicas de nosso país. Um bom começo seria o aumento da licença maternidade porque como pode um país que faz campanhas de aleitamento materno até um ano de vida ter uma licença de 4 meses e políticas públicas que priorizam o aumento das vagas em creches? Não que as políticas citadas sejam ruins, mas é preciso mais. Se a criança é tão cara para a nação e a sociedade por que não começarmos a honrá-la em seus primeiros mil dias dando a ela a chance de se desenvolver nessa fase/estando perto de sua mãe como já fazem muitos países nórdicos, bem desenvolvidos economicamente e democráticos como Alemanha, Suécia e afins onde a licença muitas vezes é de um ano ou até dois podendo ser dividida entre o casal.

Em comemoração aos meus 1000 dias gostaria, portanto, não somente de agradecer ao convívio diário com minha pequena e aqueles me possibilitaram essa experiência, mas fazer também um apelo. O primeiro pelo direito de exercermos nossa função materna na contemporaneidade sem termos que abrir mão de nossas carreiras/ de nosso trabalho. Não é justo termos que pedir licença para cuidar de nossos rebentos. Temos que ter mais tempo de licença maternidade garantida, apoiada e incentivada por políticas públicas não só porque merecemos, mas também porque políticas como essa sairão até mais barato aos cofres públicos, não tenho dúvida. E para aquelas mães que têm nas mãos a chance única e espetacular de estar com seus filhos nesses mil dias faço outro pedido: não terceirizem seu cuidado. Dois anos passam muito rápido em nossas vidas e marcam para sempre a de nossos filhos.  Aqui meu apelo é de darmos folga às folguistas para que possamos ver a bela cena de uma mãe junto com o pai empurrando o carrinho do bebê pelos espaços públicos que seja num final de semana. Mais presença e menos presentes é que vale a pena!

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Férias de Verão

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Foto: André Moura

Que tal fugirmos dos shoppings lotados e usarmos nossa imaginação para atividades com os pequenos?

As férias escolares estão ai! É hora de pensarmos em programas bem animados e divertidos para entreter nossas crianças e afastá-las das telinhas. O sol e o calor do verão podem nos ajudar muito a fugir dos shoppings lotados e aproveitar para comprar menos e brincar mais. Que tal fazermos mais passeios ao ar livre? Podemos visitar os parques e praças públicas de nossa cidade e aproveitar para mexer o corpo: Brincar de roda, pular amarelinha, andar de bicicleta ou jogar bola sem esquecer de um bom protetor solar, claro. Um piquenique bem gostoso – cheio de frutas, sucos, bolo e biscoitos feitos em casa pode ser bem bacana também! Com tanto calor outra ideia legal é aprendermos a fazer picolé caseiro. Mas, se você não tem uma receita deliciosa que tal procurar junto com seu filho, neto ou afilhado uma receita nos livros ou na internet. Essa pode ser uma atividade bem lúdica e prazerosa e quem sabe eles não tomam gosto pela culinária?

E para dias de chuva… Nada de ficar ligado na TV ou plugar as crianças nos games. Exposições interessantes para visitar nos museus ou teatros infantis podem ser excelentes opções. Nessas férias vale usarmos nossa imaginação para inventar brincadeiras bem criativas e aproveitar nosso tempo livre com as crianças para quem sabe arrumar os brinquedos das estantes separando alguns para doação, consertar os livros rasgados ou até fazer arte em casa! Nesse verão deixe o sol iluminar sua imaginação e divirta-se com os pequenos. Tenho certeza que eles vão adorar!

 

Veja algumas ideias de brincadeiras criativas no Mapa do Brincar, do jornal Folha de S. Paulo:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/mapadobrincar/

Texto originalmente publicado no blog consumismoeinfancia.com

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Monsters High: Uma reflexão sobre sua suposta diferença.

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A nova febre de bonecas monstro da Mattel deve virar filme em 2014 e render bons lucros a marca pregando um culto à diferença.

Desde pequena a boneca com 10 cm de quadril, 12,5 cm de busto, cabelos longos, lisos e loiros e olhos de estrela chama minha atenção. Não foi à toa que minha monografia de final de graduação em Psicologia, há mais de uma década, era intitulada Barbie: uma imagem que aprisiona e trazia, talvez, minha primeira reflexão mais madura sobre a relação dialógica e dialética da boneca Barbie com a mulher contemporânea. Essa boneca, que acompanhou muitas de minhas brincadeiras infantis, já atravessou mais de cinco décadas sem envelhecer nas prateleiras como recorde de vendas e com o mesmo sorriso estampado no rosto- influenciando meninas do mundo inteiro com valores materialistas e ideais de beleza inatingíveis.

Vale lembrarmos que foi no final dos anos 50 que o casal Ruth e Elliot Handler, fundadores da fábrica de brinquedos Mattel, encontrou um nicho de mercado, ainda não explorado, ao observarem as brincadeiras de sua filha Barbara, de 7 anos, com bonecas de papel. Nessa época não existia ainda uma boneca tridimensional de corpo adulto com a qual a criança pudesse fantasiar e realizar seus sonhos. Foi nesse mais oportuno momento que Ruth criou a Barbie e seu mundo cor-de-rosa revolucionando para sempre as brincadeiras de meninas que, até então, brincavam exclusivamente com bebês como um exercício de maternagem.

Com a chegada da Barbie as meninas passaram então a experimentar, em suas brincadeiras, a falsa ideia de que as mulheres adultas podiam ser o que desejassem: médicas, astronautas, bailarinas… Mas, desde que fossem magras e belas. A boneca virou então o jogo ditando não só as regras da brincadeira como também os desejos das meninas de várias gerações por esgotar em seu corpo magro, oco e de plástico com as possibilidades de ser… fora dos padrões.

A Barbie dizia de alguma forma, para as meninas que para ser era preciso ter… um carro conversível, uma coleção de sapatos, uma namorado atlético e muitos acessórios. Fato que levou muitos especialistas, ao redor do mundo todo, a questionar a influência dessa boneca “inocente” no comportamento de meninas. Vale destacar também que o sucesso de vendas da Barbie não se deu somente pela inovação da boneca, mas também por conta de toda uma comunicação mercadológica persuasiva focada nas crianças. Os criadores da boneca foram também pioneiros nas estratégias de marketing para atrair o público infantil.

Mas, hoje, ao ler uma matéria no Segundo Caderno do Jornal O Globo http://oglobo.globo.com/cultura/monster-high-rumo-ao-cinema-11202405 sobre as Monsters High– um dos mais recentes lançamentos da Mattel-  comecei a perceber que talvez, a antiga boneca mais vendida no mundo, com um fã clube de 18 milhões de membros, um guarda-roupas lotado e que já teve direito a desfile de moda em Nova York e exposição em museu Suíço perdeu seu reinado. E quem vem ocupando seu lugar nas prateleiras e nos corações da meninada é um grupo de bonecas-monstro criado em 2010 pela mesma empresa para atender as brincadeiras e “necessidades” de meninas contemporâneas.

Segundo a mesma reportagem a marca Monster High girou em 2012 nada menos do que um valor de 1,4 milhões de dólares que desejam ser multiplicados ainda mais em 2014 com o lançamento do filme das bonecas fechando um ciclo de produtos da marca que vende muito além de bonecas, dvds, mochilas ou bicicletas. As Monsters High, assim como, sua percursora Barbie vendem um estilo de vida a ser perseguido por toda uma geração de garotas “descoladas”. Ou seja, a sutil diferença desse grupo de bonecas para a Barbie não vai muito além do que novas curvas e um visual mais arrojado e moderninho e o fato delas serem “monstras”- apesar de seus criadores pregarem que elas vieram para celebrar a diferença e incentivar as meninas a exercitar sua individualidade. Será?

Aos meus olhos e de algumas meninas entre 8 e 11 anos, com quem conversei, as diferenças entre as duas personagens são ínfimas e imperceptíveis porque segundo relato das próprias crianças elas brincam da mesma forma com as novas bonecas que, para elas, celebram somente estar na moda para serem aceitas e populares. Assim sendo, o tom da reportagem citada acima me pareceu falacioso ao trazer depoimentos que dizem que as Monsters High incentivam as meninas a celebrar as diferenças. Me pergunto: que diferenças são essas? Será que tratam do fato delas serem meninas monstro? Será por que nas informações das biografias que vem com as personagens algumas delas trazem características como ser vegetariana? Talvez. Ou será que a diferença dessas bonecas está no fato de que usam I monsters para se comunicar e não simples aparelhos de telefone? Difícil enxergar a diferença na prerrogativa do marketing da marca que diz apostar na ideia dos “perfeitamente imperfeitos” ao analisar bonecas mais do que perfeitas e que pouco diferem do glamour ou da passividade das princesas da Disney como querem nos fazer crer.

Agora nos resta esperar o lançamento do filme para ver o que têm a nos dizer as lindas monstrinhas ao desfilarem seus curtos modelitos com saltos plataforma.  Como já dito sabemos que as crianças aprendem brincando. É através das brincadeiras que elaboram questões ligadas ao universo adulto e exercitam comportamentos futuros. Isso dito fica claro que essa nova boneca com seus acessórios modernos exercem uma forte influência nos ideais e valores femininos contemporâneos.

A estética da Barbie e das Monster High disseminadas hoje, pelo mundo todo, é imposta pela cultura da moda e, principalmente, pelas imagens publicitárias mobilizando milhões de meninas a fazer de tudo para conquistar o corpo ideal ou obter as roupas da moda como passaporte para a felicidade. E isso infelizmente ainda não mudou. Espero, pelo menos que a visão dos pais de meninas, que assim como eu leram a matéria, não se deixe influenciar pelas colocações pouco verdadeiras. As Monster High são uma versão atualizada e contemporânea das Barbies que caíram no gosto da garotada e que de forma alguma incentivam a celebração da diferença ou a expressão da individualidade.

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Que venha 2014!

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Foto: André Moura

“Lembrança: é uma coisa de pequeno a grande”. (Fabiàn Loaiza C ., 12 anos – Casa das Estrelas) 

De 2013 guardarei boas lembranças. Foi o ano em que minha filha deu seus primeiros passos sozinha e confiante pelas terras cariocas rumo a um início de autonomia. Foi o ano também em que ela endereçou seus primeiros pedidos e desejos através da linguagem oral. Foi lindo poder experimentar essas vivências, que ficarão para sempre em nossa memória, com ela.
Mas, foi muito bonito também ver nosso povo mais uma vez na rua exercendo sua cidadania e lutando pelos seus direitos. 2013, apesar das violências vividas em nosso país, deixará belas recordações pelas manifestações e mobilizações que aconteceram. Pela fé. Pelo povo com sentimento de coletivo. Pela empatia. Pelas conexões.
Para 2014 meu desejo é não só que o Brasil seja campeão, mas que seja um país mais justo e solidário. Desejo que nosso povo continue nas ruas lutando por seus ideais. Sempre. E desejo, principalmente, que nossas crianças possam experimentar mais utopias e brincadeiras. Que os sorrisos prevaleçam. Pé direito na virada com votos de saúde e paz… Feliz ano novo para tod@s nós!
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Consumismo: A dimensão psicológica

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Foto: André Moura

Ímpeto irracional de compra devasta natureza e amplia desigualdade. Mas é alimentado pela ideia de que mercadorias suprem vazios existenciais

O trânsito insano nos grandes centros urbanos, a excitação provocada pelas luzes e decoração das cidades, filas enormes no estacionamento dos shoppings e a imposição da compra de um número quase sem fim de presentes: para familiares, amigos secretos ou simplesmente conhecidos.

Fico pensando no real significado da data, de fechamento do ano e de um ciclo. Será que estamos comemorando o Natal de forma sustentável, com tanto desperdício de comida e embalagens, amontoado no dia seguinte às comemorações? Será que passamos valores humanos para as crianças ao comemorar um Natal em que o presente é o mais importante da festa e as cartas endereçadas ao bom velhinho trazem listas sem fim de brinquedos e eletrônicos – objetos de desejo de nossas crianças desde a mais tenra idade?

Consumo consciente versus consumismo. Esse talvez seja o maior desafio que a contemporaneidade nos reserva: como consumir de forma mais consciente e crítica, principalmente em épocas como o Natal, quando somos atravessados e impelidos a consumir em excesso?

Não podemos negar que o consumo faz parte de nosso cotidiano. É um fator importante no processo de desenvolvimento econômico, pois aquece o mercado e a produção, gera renda e empregos. Mas, quando recebe o sufixo ismo essa prática, tão trivial no nosso dia a dia, vira doença. Oneomania ou compulsão por comprar é hoje um fenômeno que acomete 3% da população brasileira, a maioria mulheres, segundo dados do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas em São Paulo.

Um alerta, porém: atualmente o consumismo não é tido como doença. É um hábito e estilo de vida, aceito em nossa sociedade desde a infância não só pelo estímulo incansável do mercado, mas também pela enorme pressão social que nos convida a consumir sem reflexão. Mais do que um hábito, o consumismo hoje agrega valor ao indivíduo.

E aí vale a reflexão: que valores são esses que estamos transmitindo às crianças? Hábitos consumistas e valores materialistas que priorizam o ter em detrimento do ser, o individual acima do coletivo, a competição ao invés da cooperação. Fato que fica evidente no documentário de 2008 “Criança, Alma do Negócio”, da diretora Estela Renner, numa cena surpreendente em que somente uma em cada dez crianças diz preferir brincar a comprar.

O estilo de vida consumista nos coloca, portanto, questões sérias e urgentes. A primeira é de ordem ética e moral: 20% da população mundial consomem 80% dos recursos naturais, ou seja, poucos consomem muito, enquanto a maioria passa por privações. Num país como o Brasil, que tem uma desigualdade social enorme, esse fator se agrava contribuindo para o aumento da violência.

O segundo ponto diz respeito às questões ambientais, pois sabemos que os recursos são finitos e nos relacionamos com eles de forma insustentável. Por fim, não podemos deixar de mencionar os impactos emocionais que esse estilo de vida impõe aos sujeitos contemporâneos que crescem acreditando na posse e oferta de objetos como sinônimo de felicidade e demonstração de afeto.

Se antigamente nossos elos sociais se davam por instâncias claras como espiritualidade, família e escola, hoje precisamos adornar nossos corpos para nos fazer visíveis e assim sermos reconhecidos e aceitos como membros da sociedade. O consumo transformou-se em passaporte para obtenção de cidadania, proporcionando ao sujeito visibilidade social. Bens e serviços funcionam como ingresso de trocas sociais e afetivas.

A cultura do consumo, na qual estamos todos inseridos, mercantilizou dimensões sociais e datas comemorativas. Mas consumir pode significar extinguir e destruir, portanto precisamos mudar nossos próprios hábitos de consumo, assim como passar valores menos materialistas a nossas crianças, para que em suas cartas de Natal peçam algo além de objetos.

Meu pedido vai aos adultos cuidadores de crianças, sejam eles pais, avós ou educadores. Será que juntos não conseguimos lutar contra esse convite exagerado ao consumo, e realizar festas de final de ano que envolvam outro tipo de troca – que não somente a de presentes? Talvez assim possamos subverter a ordem estabelecida do consumismo desenfreado e exercitar o desapego. E encontrar uma forma mais sincera de fechar nosso ano com menos dívidas e mais afeto. Boas festas!

Texto originalmente publicado na minha coluna no portal Outras Palavras http://outraspalavras.net/destaques/consumismo-de-final-de-ano-a-dimensao-psicologica/

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Desafios na Gestão Escolar Contemporânea

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Educar nunca foi tarefa fácil, nem para pais ou educadores mais experientes. E a contemporaneidade tem nos colocado novos e árduos desafios, principalmente no que diz respeito à educação e  gestão escolar pensando no consumo. Podemos dizer hoje que a formação de nossas crianças não está somente nas mãos da escola ou da família, pois é compartilhada com as diferentes mídias com as quais as crianças têm se relacionado diariamente sem a mediação de um adulto e que são atravessadas por mensagens de apelo ao consumo.

E aí está o maior desafio para os educadores: como integrar o uso das mídias na educação formal e ajudar nossas crianças a ter uma visão mais crítica sobre o que consomem? Como passar valores mais humanos em tempos tão materialistas? Para resumir: Como educar e formar nossas crianças para que sejam consumidores mais conscientes responsáveis no futuro?

Essas serão algumas questões abordadas no curso exposto acima, mas antes nos debruçaremos especificamente sobre o papel de educador e dos gestores escolares para transformação da realidade atual, fazendo uma profunda reflexão sobre a delicada relação da criança com as novas mídias e com o consumo na contemporaneidade.

A pauta do consumo é somente uma dentre várias outras tão interessantes ou importantes quanto contempladas na grade curricular  do curso de pós graduação inovador que o ISe-Cevec inaugurou para 2014 intitulado Gestão Escolar Contemporânea e do qual irei compor o corpo docente tocando o módulo do consumo.

O curso tem duração de 2 anos  e acontece em São Paulo. As inscrições já começaram. Inscreva-se já e compartilhe com amigos que desejam pensar uma educação transformadora.

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Querido Papai Noel…

Uma reflexão sobre o Natal e seu significado na infância contemporânea

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Todo final de Novembro quando as luzes e as decorações das cidades e suas casas nos anunciam que o Natal se aproxima fico pensando no real significado dessa data, a segunda que mais gera lucro aos lojistas, perdendo somente em vendas para o dia das mães. Será que estamos comemorando o Natal com nossas famílias de forma sustentável? Será que temos passado valores humanos para nossas crianças ao comemorar um Natal onde o presente é o mais importante da festa? Gostaria de compartilhar aqui essa reflexão para que nós adultos, que temos a capacidade de transformar a forma como temos celebrado essa data junto com nossos pequenos, possamos repensar o real sentido que temos dado ao Natal.

Na minha família toda vez que nascia um novo neto minha avó de quem herdei não somente os profundos olhos, mas, também o nome bordava um saco de papai Noel com o nome do novo bebê que havia nascido. Esse parecia ser um ritual de boas vindas da família, da qual guardo belas recordações, que se reunia toda noite de 24 de Dezembro não somente para trocar presentes, que preenchiam os sacos bordados a mão pela vovó, mas para celebrar conquistas e afetos compartilhados ao longo daquele último ano.  Não posso negar que a troca de presentes sempre fez parte dessa festa, mas a magia envolvida na celebração era, sem dúvida, muito mais importante e interessante, para nós crianças, do que os presentes em si.

Esperávamos na janela do quarto pelo trenó do bom velhinho enquanto os adultos arrumavam os sacos embaixo da árvore. E mesmo aquelas netas mais velhas ou mais céticas como eu, que não acreditavam no Papai Noel respeitavam os outros e quando aparecia algo mais brilhante no céu diziam: “Lá vem ele!” e assim corríamos para sala para abertura coletiva dos presentes. Uma verdadeira farra.  Hoje me parece que os presentes são o que mais importam nessa data religiosa e comemorativa que parece também ter sido mercantilizada, infelizmente. Atualmente as famosas cartinhas de Natal entre as crianças trazem listas sem fim dos últimos lançamentos de brinquedos anunciados incessantemente pela publicidade na tv -que convida nossos filhos a um consumo exagerado. Esse ano parece que o hit de pedidos foi o Ipad mesmo para crianças bem pequenas.

O trânsito na cidade, a excitação para ver as decorações e a imposição da compra de um número quase sem fim de presentes seja para familiares, amigos secretos ou conhecidos sempre me incomodou muito sem contar o desperdício de comida e o lixo de embalagens gerado no dia seguinte das comemorações. Mas, acredito que a saída para reversão desse tipo de celebração, nada sustentável, também se encontra na poesia das crianças que conseguem, através de uma mediação bem conduzida e com diálogo aberto por um adulto, endereçar como pedido de Natal na suas cartinhas algo como paz, borboletas, alegria e muito mais coisas poéticas do que materiais como vi em alguns murais de escolas. Mas, isso requer muito diálogo entre adultos e crianças senão, sem dúvida, o mais fácil de ver listado são os últimos lançamentos de brinquedos, excessivamente anunciados em todos os canais e locais de convivência com a infância como coloquei acima.

No Natal passado li um texto interessante que vale resgatar e trazia um manifesto de uma organização Inglesa que discutia o significado da cartinha endereçada ao Papai Noel pelas crianças, além algumas dicas aos pais de como fazer um Natal mais humano e menos materialista- o que se mostra uma difícil tarefa nos dias de hoje onde o consumismo impera entre adultos e crianças e os bens materiais nos servem não somente como ingressos sociais, mas como uma forma de demonstração de afeto. Já esse ano vi outra manifestação linda acontecer e o mais bacana é pensar que fiz parte dela. Foi lançada pela Rebrinc (Rede Brasileira sobre Infância  e Consumo) https://www.facebook.com/redebrasileirasobreinfanciaeconsumo da qual faço parte junto com muitos outros “ativistas” uma campanha natalina chamada Natal das Dádivas que traz a ideia de uma maior presença de coisas importantes na vida do que os presentes em si. Que tal curtir e compartilhar em https://www.facebook.com/photo.php?fbid=529936490436801&set=a.529936420436808.1073741828.529223883841395&type=1&theater

E para fechar minha reflexão gostaria de dizer que na minha cartinha de Natal gostaria, portanto de endereçar um pedido não ao Papai Noel, mas sim aos adultos cuidadores de crianças, sejam eles pais, avós ou educadores. Será que não conseguimos conjuntamente lutar contra esse convite exagerado a compra de presentes e realizar uma festa natalina que envolva outro tipo de troca que não seja somente de presentes? Deixo aqui algumas dicas e para as outras conto com a imaginação de todos nós. Uma ideia bacana é pensarmos em presentes feitos em casa e junto com as crianças. Receitas, recortes, desenhos e colagens são bens vindos. Podemos também doar coisas para que as novas cheguem, pois brinquedos que para nossos filhos não tinham mais graça, podem se tornar novidades enormes para seus novos donos. Espero, portanto que nesse Natal as famílias consigam repensar a forma como temos lidado com o consumo nos dias de hoje para que nossas crianças consigam listar desejos mais humanos e honestos ao querido Papai Noel. Boas festas!

Texto originalmente publicado em http://defesa.alana.org.br/post/38143392986/significado-natal-criancas, mas aqui atualizado.

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Uma infância perdida

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Foto: André Moura

Publicidade dirigida às crianças sai das telas e ganha novos espaços enquanto o PL 5921/2001, que visa regulamentar a comunicação mercadológica dirigida às crianças, faz aniversário de 12 anos de tramitação no Congresso.

Não esqueça minha Caloi. Compre batom. Danoninho vale mais do que um bifinho. Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola e picles num pão com gergelim. Quem não se lembra desses jingles publicitários que marcaram a infância de toda uma geração? É fato que não é de hoje que as marcas invadem nossa subjetividade com apelos sedutores em forma de imagens, cheiros ou músicas, nos vendendo não somente produtos, mas uma falsa ideia de realização de sonhos e inclusão social através da posse dessas mercadorias. Com essas mesmas frases comecei um artigo, em outubro de 2007, no caderno Opinião da Folha de S. Paulo. Ali, fazia, talvez, meu primeiro apelo para repensarmos o endereçamento de publicidade a um público menor de 12 anos. O que mudou desde então?

Eu diria que o que mudou, infelizmente, foi o aumento exponencial de mensagens de apelo ao consumo para crianças, assim como o formato no qual essas mensagens chegam até elas. Hoje não basta desligar o botão da TV para que nossas crianças não sejam alvo de publicidade. A comunicação mercadológica saiu das telas e ganhou as ruas, os muros, o meio da programação infantil e até as escolas, para falar diretamente com nossas crianças, seres em formação psíquica e cognitiva e, portanto, mais vulneráveis que nós a essas mensagens.

Exemplos não faltam. Parques e áreas públicas de grandes centros urbanos vêm sendo ocupados por eventos cujo único objetivo é venderOu seja,empresas estão invadindo espaços públicos, disfarçadas de patrocinadoras e “promotoras de eventos” – muitos dos quais criados exclusivamente para expor uma marca e atrair atenção de crianças. E não estamos falando de um evento cultural, gratuito, que precisa de patrocínio para acontecer. Trata-se de algo criado, no suposto formato de “entretenimento”, para atrair a atenção do público infantil.

Em outubro do ano passado, um evento da revista infantil Recreio, da maior editora do país, ocupou o Parque Villa Lobos, na Zona Oeste de São Paulo, com estandes e tendas de marcas variadas, onde as atividades propostas às crianças eram todas relacionadas aos produtos dos patrocinadores. O evento era gratuito – e isso pode nos levar, em um primeiro momento, a considerar essa exposição inofensiva. Mas vamos parar e pensar: a apropriação do espaço público pelas empresas e corporações é algo honesto? E as famílias preocupadas com a questão do consumismo que pagam seus impostos em dia e estavam fugindo dos shoppings e de seu apelo ao consumo para um simples passeio no parque deveriam fazer o quê? Mudar a programação? Isso é justo?

E não é somente em espaços públicos que marcas têm falado diretamente com nossos pequenos sem nossa permissão. Esse mesmo tipo de invasão mercadológica tem acontecido também em espaços escolares, o que tem impactos ainda mais graves na formação de nossas crianças. Escola deveria ser um lugar importante na formação de valores e exercício de cidadania, assim como segundo espaço de socialização das crianças depois da família. Porém, hoje, escola também funciona como local de venda – e isso é um absurdo, pois tudo o que acontece na escola tem o respaldo institucional. Esse respaldo faz com que não só as crianças, mas também suas famílias, tomem essas ações como algo positivo para a saúde infantil, apesar de 56% da população desaprovar publicidade em escolas, segundo pesquisa de 2011 do Datafolha.

Há alguns meses o Instituto Alana questionou os órgãos competentes com uma representação contra shows comandados pelo palhaço Ronald McDonald dentro de escolas públicas e privadas – inclusive para bebês e crianças menores de seis anos. Durante os shows, o palhaço interagia com os pequenos trazendo os logos do McDonald‘s para dentro do ambiente de ensino, e demonstrando que o que se divulga como “ação educativa” é, na verdade, uma maneira de fidelizar os alunos desde cedo.

Para fechar os exemplos não posso deixar de mencionar a avalanche de merchandisings que tem acontecido não somente em programação infantil na TV, mas também em teatros – o que é extremamente prejudicial, já que a maioria das crianças de até 8 anos ainda confunde conteúdo da programação com publicidade, segundo pesquisa de 2003 da Interscience. Agora, imaginem vocês o impacto que existe quando o merchandising acontece num programa infantil que se passa numa escola, como foi o caso, no ano passado, da novela Carrossel do SBT?

É fato que nesses seis anos – desde meu primeiro artigo sobre o tema – o debate sobre a publicidade dirigida às crianças e seus efeitos maléficos aumentou. O tema, sem dúvida, virou pauta na agenda pública do país. Mas, saber que em 12 de dezembro de 2013 o Projeto de Lei 5921/2001, que versa sobre a regulamentação da publicidade dirigida às crianças, completará 12 anos em tramitação no Congresso Nacional nos faz pensar em toda essa geração de crianças que, durante esses 12 anos, continuou sendo exposta a mensagens de consumo que as convidam a acreditar que ter é melhor do que ser. Numa sociedade de consumo como a nossa, sabemos que a publicidade é a alma do negócio, já que estimula as compras, aquece a produção, gera empregos e renda e é considerada relevante no processo de desenvolvimento econômico do país. Entretanto, nenhum tipo de desenvolvimento, seja ele econômico, tecnológico ou científico, deveria ser mais importante que o desenvolvimento psicológico e cognitivo de uma única criança. A infância é o prefácio de um futuro mais justo e, para tanto, precisa ser protegida de apelos comerciais.

Os impactos sociais, ambientais e econômicos da publicidade dirigida às crianças – como a formação de hábitos consumistas, o aumento da obesidade infantil, o estresse familiar, o incremento da violência urbana, a erotização precoce, entre outros – merecem nossa atenção. A ação conjunta precisa ganhar força, para revertermos esse quadro. Todos os agentes sociais, e aí se incluem família, Estado, educadores e mercado, têm a responsabilidade compartilhada de transformar essa realidade e ditar novos paradigmas para nossas crianças. A família deve dar exemplos mais humanos e menos materialistas, a escola deve formar cidadãos e consumidores mais conscientes, mas também é preciso que o Estado regulamente a publicidade dirigida às crianças para que os excessos comecem a ser coibidos. Como já dito, o Projeto de Lei 5921/2001 está às vésperas de completar 12 anos tramitando no Congresso, e isso significa que uma geração inteira de crianças ficou exposta a essa abusividade durante esse tempo. Não podemos deixar que mais 12 anos se passem para que outra geração seja perdida. Portanto, entre nesse debate e faça sua parte. Que tal começar enviando um email para os deputados no site de mobilização do PL criado pelo Instituto Alana?

Texto originalmente publicado no site do Alanahttp://alana.org.br/post/69170754130/uma-infancia-perdida